sábado, 18 de agosto de 2012

State of Soul...


Tarde cedo, um domingão

De repente, num arroubo de energia

Na certeira ambição

Levanta do sofá na fantasia

Esgueira-se entre mesa e fogão

Abre, com receio, a geladeira vazia

Encontra aquela lata esquecida atrás do feijão

Puxa e trisca a unha, estalada sadia

Desce o líquido loiro, amorenando o coração.


Navegando no hiperespaço inter-craniano latente, sente cada molécula da gelada...
Facilitando as sinapses criativas. Massageando as mais tensas, conversando com os neurônios que precisam de mais atenção e que estão entrando pela esquerda do palco pra tocar “All my loving” com os que moram lá no cerebelo.

Os azuis olhos enxergam ao redor. À frente, uma tela. À direita, uma bandeira do Santos e uma flâmula do Real Madrid e um violão. À esquerda, mesas, uma miniatura da torre Eiffel em vidro. Cenário posto. Definidamente mutável. Agnosticamente religioso, dogmaticamente plural. Todo o mundo janela afora. Todo o universo olhos a dentro. Pássaros, carros, Gênesis. Composto cenário sonoro. 

Levantando a passos largos e lentos. Encaminhando para a porta. Desce um lance de escadas de carpete. Abre as portas. Árvores, como que pegas no pulo, começam a se cobrir. Já não há sinal de neve. Tranqüilidade e verde por dois quarteirões. Avenida movimentada. Zebra estirada garante travessia sem sustos e sem sinais, vermelhos ou verdes. Nem sorrateiramente amarelos. Só zebra. Catedral de cânticos, culpas e mirra à direita. Dois quarteirões de prédios antigos e árvores. Canivete em mãos, escreve no tronco: "Não leia essa merda". Nada a dizer. Segue. Caminhando por la calle, liga o som. Entra na loja. Compra mais loiras. Segue amaciando o cérebro. Bob Dylan toca alto. 

Sobe no táxi. Viaja em silêncio. Não informa onde vai. Salta de repente, no sinal, deixa vinte reais no banco da frente. Entra no teatro abandonado. Cria um monólogo. Sai aplaudido pelo público imaginário e alguns sem-teto. Volta ao lar correndo. Sobe as escadas acarpetadas. Passa pela geladeira. Encontra o feijão que escondia a cerveja. Come, gelado, com mostarda. Liga a tevê e para de pensar...






2 comentários:

  1. Caminhando por la calle??????? kkkkkkkkk
    Boa Paulão!!!
    Ta ficando irado esse brógui hein!!!
    To acompanhando, vai escrevendo que tá massa essas crônicas e contos!!!!

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  2. Valeu, meu velho! É bom saber que tem gente curtindo! Eu escrevo porque gosto, mas é sempre bom ter gente que acompanhe!!! Abração!

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